Maria Bonfim da Silva, 71 anos, não contém as lágrimas ao lembrar das dificuldades que enfrentou 22 anos atrás, antes de iniciar na catação de recicláveis. Naquela época, sozinha, desempregada e com dois filhos pequenos, ela não sabia o que fazer para prover o sustento da família. “Eles pediam pão para comer, quando chegavam da escola, mas eu não tinha nada para dar, só água”, se recorda. Foi então que começou a recolher latinhas nos bares para vender, até que pouco tempo depois os estabelecimentos suspenderam a doação. Maria conta que orou a Deus e encontrou uma solução: catar recicláveis na rua. Mas, a princípio teve vergonha e, então, se aconselhou com o dono de uma barraca, o senhor Lula. Ele lhe disse: “Dona Maria, não tenha vergonha não, este é um serviço digno”. O conselho bastou para que Maria criasse coragem e fosse à luta. Hoje, ela diz que encontrou a felicidade porque com o trabalho da catação criou os dois filhos e ainda custeou seus estudos. “Nunca mais faltou pão para eles comerem. Os dois estudaram e fizeram até duas faculdades”, diz. Maria cumpriu sua missão, mas não deixou o trabalho de catação, que realiza com um carrinho de supermercado, apenas reduziu um pouco a jornada porque se sente cansada. “Sinto dores nas costas, por isso trabalho menos”, diz. Com a pretensão de superar a sua mãe, que morreu aos 96 anos, ela espera viver muito. “Eu vou passar dos cem anos”, brinca. Com tanto tempo pela frente ainda para trabalhar, ela reconhece que o triciclo ajudaria muito. Maria Bonfim conquistou patrocínio recentemente e receberá seus equipamentos em breve.